A dor crônica é aquela que persiste por mais de 3 meses. No Brasil, de acordo com o artigo "Prevalência de dor crônica no Brasil: revisão sistemática", publicado em 2021 e que reuniu 35 estudos sobre o tema, a predominância variou de 23,02% a 76,17% e média nacional de 45,59%, sendo mais frequente em mulheres.
Consequência de um processo lento e progressivo que, aos poucos, vai incomodando o indivíduo em níveis crescentes, a dor crônica pode, também, ser resultado de uma dor aguda mal tratada, segundo Tarcila Fontes, reumatologista com atuação em Natal.
Elas são classificadas em:
- Nociceptiva: gerada por lesões teciduais, como queimaduras, contusões ou entorses
- Inflamatória: provocada por infecções ou distúrbios autoimunes
- Neuropática: decorrente de lesões da fibra nervosa
- Nociplástica: relacionada a alterações na capacidade dos nervos transmitirem informações até o cérebro ou a modulação dessas informações. Nessa categoria, estão inseridas fibromialgia, distrofia simpático-reflexa, síndrome do intestino irritável, enxaqueca crônica, a dor pélvica crônica e lombalgia crônica inespecífica, entre outras.
Nas palavras de Fernando Augusto Vasilceac, fisioterapeuta, professor do departamento de gerontologia da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e coordenador do curso de especialização em dor e da Clínica da Dor da mesma instituição, é preciso aprender a conviver com a dor, visto que, instalada, dificilmente ela será revertida. "Porém, ela pode ser amenizada e se tornar compatível com a vida desse indivíduo."
1. Busque ajuda
Por ser uma experiência complexa, individual e com potencial limitante da qualidade de vida, é importante que a dor crônica seja abordada por equipes multidisciplinares formadas por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, profissionais de educação física, psicólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros. O tratamento deve ter início o mais breve possível para prevenir sua progressão e poderá contar com a combinação entre medicamentos, exercícios e psicoterapia.
2. Repousar não é a solução, mexa-se!
A ideia de que o repouso vai trazer conforto e alívio à dor é uma crença que precisa ser substituída. A prática de exercício físico regular e supervisionado é uma das responsáveis pela melhora do bem-estar.
Na dor crônica, pelo menos em um primeiro momento, não existe um exercício superior a outro. O fundamental é encontrar uma atividade que proporcione prazer associado ao movimento.
- Os especialistas aconselham testar várias modalidades até chegar a que seja mais agradável, como caminhadas, alongamentos, hidroterapia, dança, ioga e pilates.
- Após a adaptação, é indicado adicionar exercícios específicos para atingir determinados objetivos, por exemplo, o fortalecimento.
- O exercício físico contribui na qualidade do sono e estimula a secreção de endorfina, hormônio que proporciona prazer e bem-estar.
3. Acalme a mente e alivie o estresse
O estresse, alterações de humor e ansiedade são fatores de risco que podem deflagrar a dor.
O estresse ativa áreas do cérebro que liberam neurotransmissores e hormônios que causam um impacto negativo no sistema musculoesquelético, além de tensão. Portanto, de acordo com Gabriela Luize de Mello Castello, fisioterapeuta do HSPE (Hospital do Servidor Público Estadual), em São Paulo, para amenizar a dor é fundamental aliviar também o estresse.
- Estudos recentes mostram que a meditação tem efeito nos mecanismos cerebrais que influenciam os processos de dor, diminui as sensações dolorosas e auxilia na redução do uso de medicamentos.
- Técnicas de controle do estresse como relaxamento, meditação e incentivo à espiritualidade são boas ferramentas no autogerenciamento da dor.
- Massagens também ajudam a relaxar, abrandando algumas dores musculares e articulações.
4. Divirta-se
O lazer induz melhora da dor pela ampliação da sensação de bem-estar provocada por liberação de substâncias de efeito analgésico como as endorfinas.
É importante manter os hábitos de que gosta, seja ir ao clube, andar a cavalo, passear com o cachorro ou fazer jardinagem.
5. Faça terapia
A psicoterapia colabora na eliminação de crenças disfuncionais que o limitam para o exercício, ajuda a fortalecer estratégias de combate ao estresse e de gerenciamento da dor.
"É importante que a pessoa com dor crônica perceba seu papel ativo, de protagonista na sua melhora", enfatiza Fontes.
É preciso olhar para além do corpo, por isso a saúde mental tem tanta importância no manejo da dor crônica.
"Hoje, trabalha-se o modelo biopsicossocial, indo além das condições biológicas, ou seja, não olhar apenas para uma coluna que dói, mas para o indivíduo como um todo: o seu psicológico e suas relações sociais", esclarece o professor da UFSCar.
6. Tenha hábitos saudáveis
Os hábitos saudáveis ajudam a conviver com as limitações impostas pela dor crônica e a ter resultados significativos com o tratamento.
Reduzir a ingestão de algumas substâncias, como cafeína, álcool e gorduras, favorece o repouso durante o sono, diminui o estresse, as inflamações e, consequentemente, a dor.
A qualidade de vida é tão importante quanto a melhora do quadro clínico.
7. Cuide da alimentação
Uma dieta rica em fibras, vegetais e com menos produtos industrializados ajuda a manter a flora intestinal saudável, evitando a suscetibilidade a infecções e a má absorção de nutrientes.
8. Não fume
O cigarro, além dos seus inúmeros malefícios, também contribui para dor crônica por mecanismos diversos e ainda não totalmente esclarecidos.
Segundo a reumatologista, hipóteses incluem o aumento de substâncias inflamatórias no organismo, a redução do suprimento sanguíneo para os tecidos e, ainda, o fato de funcionar como acelerador da perda de massa muscular.
9. Evite bebidas alcoólicas
O uso de bebidas alcoólicas não é indicado aos que fazem tratamento da dor, apesar de seu efeito analgésico. A substância agrava os sintomas da dor crônica por aumentar a inflamação.
Além disso, leva a um sono superficial, comprometendo o descanso durante a noite.
10. Não abandone os medicamento
As medicações devem ser supervisionadas e serem utilizadas, principalmente, durante as fases agudas da dor crônica, porém, não são a única forma de tratamento, sendo complementares a outras estratégias.