Verdade seja dita: pouco importa a sua idade. Se as suas escolhas alimentares não são as mais saudáveis e o seu débito com os exercícios físicos só cresce, a balança é rápida em fazê-lo enfrentar a realidade dos quilos a mais.
A resposta física a essa mudança na composição corporal será diferente a depender de muitas variantes, como a presença de outras enfermidades, fatores genéticos, etc. O que nunca muda é a necessidade de gerenciar o avanço do peso para proteger a saúde.
Afinal, a obesidade está associada diretamente ao aparecimento de doenças e efeitos indesejados, como o aumento do risco para problemas cardiovasculares e mortalidade, e até mesmo alguns tipos de câncer.
- 64% das pessoas relatam o desejo de pesar menos
- Cerca de 94% delas declaram tentativas prévias de perder peso
- 31% já fizeram isso por conta própria por meio de dieta e exercício
- 10% fazem uso de medicamentos sem orientação médica
IMC, uma das peças do quebra-cabeças
Para avaliar o excesso de peso e, portanto, diagnosticar a obesidade, os especialistas se valem de várias informações que indicam como anda a sua saúde.
Uma delas é o IMC (índice de massa corporal), uma fórmula matemática que considera seu peso e altura: (IMC = P / A²), ou seja, a conta é uma divisão do valor do seu peso pela sua altura ao quadrado.
- O resultado dessa operação mostra as categorias de peso que podem levar a problemas de saúde (sobrepeso e graus de obesidade).
- Esse cálculo não é considerado isoladamente. Isso porque duas pessoas podem ter o mesmo IMC, mas quantidades diferentes de gordura no corpo.
- A distribuição desse tecido adiposo também é importante. A mais lesiva é a abdominal.
- Outros fatores que ainda são considerados são idade, etnia, gênero e genética.
O que você ganha com isso?
Já está estabelecido na literatura médica que sobrepeso e obesidade podem desencadear quadros inflamatórios que duram no tempo (crônicos).
Eles têm como característica a secreção de substâncias que se relacionam a alterações no metabolismo e em todos os sistemas do corpo. Essas mudanças colocam o organismo sob pressão e facilitam o aparecimento de alguns problemas. Confira alguns deles:
- Complicações metabólicas
- Problemas articulares
- Mudanças no padrão do sono
- Aumento do risco para doenças do coração
- Alguns tipos de câncer
Você nota que seus exames estão alterados
Com o aumento da gordura visceral, aquela que notamos na região da cintura, todos os parâmetros metabólicos se alteram.
- Ao longo do tempo, pode ser observado o aumento da resistência à insulina, da gordura no fígado e da taxa de glicemia.
- Entre pessoas com quadros de pré-diabetes, o aumento de peso acelera a progressão da doença.
- A pressão arterial também se eleva, assim como as taxas de colesterol.
Você vive com dor nas costas e nos joelhos
O peso excessivo não necessariamente está ligado à obesidade porque quem tem boa massa muscular protege as articulações.
No entanto, quando a carga articular aumenta, especialmente no quadril, joelhos e coluna, e faltam músculos para balancear essas regiões, os prejuízos aparecem.
- A pressão sobre a articulação é diretamente proporcional à força sobre ela. Quanto maior for o peso, maior é a pressão na cartilagem, e mais dor/desconforto, principalmente nas mudanças de posição.
- Quanto mais cedo ocorre uma intervenção para reduzir danos, melhor.
- O que funciona é a combinação de dieta e exercícios, como musculação, pilates, caminhada, bicicleta. No entanto, essas práticas devem ser orientadas por um profissional porque cada caso tem seu tipo de exercício mais benéfico.
- Reduzir o peso melhora o padrão muscular, as funções articulares, assim como a mobilidade. Todos esses fatores colaboram para a melhora da dor.
Você se sente cansado o tempo todo
O aumento da gordura na região abdominal e a obesidade são considerados situações que aumentam o risco de a apneia obstrutiva do sono aparecer.
Embora as pesquisas sigam observando a relação entre qualidade do sono e peso, cientistas da Universidade de Columbia (EUA) relatam que os resultados obtidos na maioria delas confirmam a ideia de que baixar dígitos na balança é potencialmente benéfico durante o tratamento do problema.
Ao emagrecer, a tendência é ter menos sintomas respiratórios, o que melhora o descanso noturno.
Você maltrata o coração
Obesidade e sobrepeso se relacionam a alterações na pressão arterial e triglicérides. Estes, por sua vez, têm um impacto negativo na saúde cardiovascular, e podem aumentar o risco para doenças como o infarto e AVC.
- Os percentuais de perda ideal podem variar a depender do peso original (10% a 15%) e o grau da obesidade, no entanto, quanto mais peso se perde, melhor.
- Perder 10 kg ou mais reduz em 21% eventos cardiovasculares e a mortalidade quando se comparadas pessoas que mantiveram ou ganharam peso.
Há também benefício em relação à mortalidade por todas as causas, que é diminuída.
O emagrecimento entre pacientes com doença arterial coronariana reduz óbitos em 37% por causas cardiovasculares, assim como todas as outras, além de eventos cardíacos adversos (insuficiência cardíaca ou angina, por exemplo).
Você dá mole para os tumores
Embora as mulheres sejam as primeiras em tomar providências para perder peso, ganhá-lo pode aumentar o risco para todos os cânceres relacionados à obesidade: mama, colorretal, esofágico, rins, vesícula, útero, pâncreas e fígado.
- 4% a 8% de todos os tumores têm como causa a obesidade.
- Ainda não foi totalmente esclarecido o mecanismo por trás disso, mas a hipótese é que este pode ser o resultado de alterações metabólicas, hormonais, desregulação do sistema de defesa do corpo e da inflamação crônica provocada pela obesidade.
- O quadro ainda aumenta o risco de morrer por algum tipo de câncer e pode também atrapalhar estratégias de tratamento, dados os possíveis efeitos colaterais.
- Para quem fez cirurgia bariátrica, a redução do risco de ter câncer é de 28% a 58%.
Mas por que estou ganhando peso?
Quilos a mais decorrem do balanço energético positivo, ou seja, comer mais do que se gasta. Quando se consegue alcançar o perfeito equilíbrio entre o que se consome e o que se gasta, o peso é mantido sob controle.
Apesar disso, os mecanismos que fazem que busquemos por determinados alimentos, incluindo os mais calóricos, e suas quantidades são complexos.
Isso quer dizer que manter o peso sob controle nem sempre depende apenas de boa vontade e disciplina.
Veja outros fatores que podem influenciar o aumento de peso:
- Uso de alguns tipos de medicamentos (corticoides, antidepressivos, antipsicóticos, antidiabéticos, etc.)
- Hipotireoidismo
- Síndrome de Cushing
- Acromegalia
Ao perceber que o peso vem aumentando, apesar da maior atenção ao consumo calórico e o aumento da atividade física, é preciso buscar ajuda de um profissional da saúde para uma avaliação.
O tamanho do problema
Desde o final da década de 1990, a comunidade científica estabeleceu critérios para identificar, avaliar e tratar o sobrepeso e a obesidade, que têm sido associados ao aumento de enfermidades crônicas como diabetes tipo 2, hipertensão, dislipidemia, doenças cardiovasculares, câncer, Alzheimer, e até doenças infecciosas como a covid.
- A obesidade é a segunda maior causa de morte que pode ser prevenida (a primeira é o tabagismo)
- Em todo o mundo, cerca de 2 em cada 5 pessoas têm obesidade
- 4 bilhões delas podem ser afetadas em todo o mundo em 2035
- Crianças e adolescentes serão os mais afetados (aumento de 10% para 20% dos meninos no período de 2020 a 2035; de 8% para 18% das meninas do globo e, especialmente, no Brasil)
- Para além do custo (US$ 4 trilhões ao ano), a economia pode sofrer com o absenteísmo e o presenteísmo, aposentadoria ou morte precoce relacionadas. As estimativas são do Atlas da Federação Mundial da Obesidade (2023).
Dicas para gerenciamento do peso
Para manter ou prevenir o ganho de peso, a receita é a mudança do estilo de vida. Isso integra a adoção de dieta equilibrada, atividade física, redução do estresse e melhora da qualidade do sono.
Apesar disso, a presença de doenças, e mesmo uma predisposição genética pode dificultar o sucesso dessas iniciativas.
Nesses casos, o uso de medicamentos pode ser necessário para frear os ponteiros da balança. A orientação de um médico pode facilitar esse processo. Confira algumas estratégias que também colaboram nesse sentido:
- Tire proveito das orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira, disponibilizado pelo Ministério da Saúde
- Beba mais água em vez de refrigerantes e sucos açucarados
- Reduza o quanto possível o consumo de alimentos ultraprocessados
- Inclua mais frutas e vegetais no cardápio. O custo deles pode ser alto. Por isso, escolha sempre itens da estação, que são mais acessíveis
- Prefira versões de laticínios com menores teores de gordura
- Escolha alimentos e pães com grãos integrais
- Garanta o consumo de carnes com baixo teor de gordura; nozes, sementes e feijão são opções bem-vindas
- Use pratos menores que ajudam a não exagerar nas porções. Só não vale enchê-los uma segunda vez
- Troque lanches ricos em açúcar adicionado, sal e gorduras (como batatinhas fritas, biscoitos, chocolates e bolos) por frutas e iogurte
- Organize e planeje refeições e compras no supermercado. Isso ajuda a ter uma rotina onde não há espaço para itens que prejudicam sua saúde
- Evite automedicar-se. A terapia com remédios pode ser útil para você, mas só um profissional da saúde pode avaliar as melhores opções para o seu perfil.
Ideias para se mexer mais
O Ministério da Saúde também possui um Guia de Atividade Física para a População Brasileira que pode ajudá-lo a evitar o comportamento sedentário e colocar mais movimento no seu dia a dia. Para começar, adote as seguintes medidas:
- Comece com pequenas e simples mudanças, como levantar-se mais da cadeira ou do sofá durante o dia
- Prefira usar o transporte público se esta for uma opção viável para você e desça na estação ou no ponto anterior para poder caminhar mais
- Escolha uma atividade física que lhe dê prazer para aumentar as chances de que você vai se mover, mas também se divertir
- Aproveite oportunidades de estar com seus filhos em atividades que mantenham todos ativos fisicamente