Exercício ou remédio: o que é melhor para reduzir pressão alta e a barriga?



Exercícios podem abaixar a pressão arterial e reduzir a obesidade abdominal de maneira pelo menos tão efetiva quanto a maioria das medicações prescritas mais comuns, segundo duas novas revisões de pesquisas sobre o efeito dos exercícios em enfermidades. Juntos, os novos estudos sustentam a ideia de que o exercício pode ser considerado um remédio, e bem potente. Mas eles também questionam se sabemos o suficiente sobre os tipos e a quantidade de exercícios que podem tratar melhor diferentes problemas de saúde e se realmente queremos começar a entender nossos treinos como medicamentos.
 
A possibilidade de prescrever formalmente exercícios como tratamento para uma variedade de patologias --incluindo pressão alta, resistência à insulina, obesidade e osteoartrite, entre outros-- tem ganhado aceitação entre cientistas e médicos. A American College of Sports Medicine (Organização Americana de Medicina Esportiva) já lidera uma iniciativa global chamada Exercise Is Medicine (Exercício é remédio), que tem como objetivo incentivar médicos a prescrever exercícios como parte do tratamento de doenças. 
 
No entanto, enquanto os remédios são testados extensivamente antes de ser aprovados e prescritos, as investigações acerca dos exercícios, mesmo aquelas que examinam as atividades como um tratamento de enfermidades, tendem a ser relativamente restritas e de curto prazo. Além disso, raramente os exercícios são confrontados em comparação com as drogas que tratam da mesma condição. 
 
Por isso, os autores das duas novas revisões decidiram, de forma independente, organizar as próprias batalhas científicas, exercícios versus drogas, e para cada uma usar a mesma abordagem levemente indireta. Os pesquisadores decidiram reunir os melhores trabalhos recentes que analisaram a eficácia das drogas para uma condição e os melhores estudos comparativos que usaram exercícios para tratar a mesma doença, agrupando, analisando e comparando os vários resultados. 
 
Para a primeira nova revisão, que foi publicada em dezembro no British Journal of Sports Medicine, pesquisadores da Escola de Economia de Londres, da Universidade de Stanford e de outras instituições decidiram se concentrar na pressão arterial sistólica (o número mais alto), em grande parte porque a pressão alta pode ser muito devastadora e aumentar o risco de doenças cardíacas, Alzheimer e morte prematura. A hipertensão também é tratável, com drogas betabloqueadoras, diuréticas e muitas outras, ou com exercício. 
 
Os estudiosos agruparam 391 experimentos aleatórios e controlados - o padrão de excelência aceito para tratamentos em teste - que investigavam ou uma medicação ou algum tipo de exercício para a redução da pressão arterial. Juntos, os experimentos incluíam quase 50 mil voluntários, entre os quais mais de 10 mil participaram das análises acerca dos exercícios.
 
Os pesquisadores então somaram os dados de ambos os ensaios e descobriram que, no resultado consolidado, todas as drogas e qualquer tipo de exercício são capazes de abaixar a pressão arterial, apesar de, no geral, as primeiras terem demonstrado reduções levemente melhores. Os cientistas acreditam, contudo, que essa queda mais proeminente observada entre as medicações pode ter sido ocasionada pela presença de voluntários relativamente saudáveis nos testes com exercícios; a pressão arterial inicial deles era, geralmente, mais baixa do que a encontrada nos testes com remédios e, portanto, a queda no fim foi menos acentuada.
 
Os métodos nos estudos com exercícios também eram frequentemente menos rígidos e precisos do que naqueles com remédios, observaram os estudiosos. Os voluntários dos estudos com exercícios raramente participavam de testes cegos, por exemplo, uma vez que é difícil evitar que uma pessoa saiba se está praticando atividades físicas ou não. Além disso, foram poucos os acompanhamentos de longo prazo dos praticantes.
 
Algumas dessas mesmas questões atrapalharam a ciência do exercício destacada na outra nova revisão, que foi publicada em fevereiro na Mayo Clinic Proceedings. Para esse estudo, os pesquisadores se concentraram na gordura e, em particular, na gordura abdominal, um tipo especialmente nocivo que se acumula ao redor da cintura e profundamente sob a pele, sufocando os órgãos internos e aumentando o risco de problemas metabólicos.
 
Há, atualmente, muitos remédios aprovados capazes de reduzir vários tipos de gordura, incluindo a abdominal, como metformina e orlistate. Também já foi comprovado que exercícios diminuem a gordura abdominal, mas não havia muitas investigações científicas comparando ambas as abordagens. Por isso, estudiosos, a maioria do Centro Médico Southwestern da Universidade do Texas, em Dallas, agruparam experimentos recentes e relevantes com drogas e testes aleatórios que usaram o exercício para combater a gordura abdominal. O pré-requisito era que todas as investigações usadas tivessem durado pelo menos seis meses. Em seguida, eles consolidaram os resultados.
 
Novamente, como na outra revisão, tanto as medicações como os exercícios foram bem-sucedidos para a maioria dos participantes; ou seja, a maioria perdeu gordura abdominal com qualquer uma das abordagens. Mas, nessa revisão, o exercício teve desempenho levemente superior no sentido de que, para cada meio quilo perdido, havia maior perda de gordura abdominal quando a pessoa se exercitava do que quando tomava remédio.
 
A conclusão da revisão é que "mudanças no estilo de vida, como iniciar a prática de exercícios, deveriam ser o primeiro passo" quando as pessoas estão dispostas a reduzir a gordura abdominal, afirmou Ian Neeland, professor-assistente de clínica médica no centro da Universidade do Texas, que supervisionou a nova revisão. Ele e os colegas também descobriram que os exercícios aeróbicos foram mais efetivos do que os treinos de força na queima de gordura abdominal, apesar de a maioria dos experimentos com exercícios ter sido de pequena escala e sem grupo de controle com placebo.
 
Analisadas em conjunto, as novas revisões indicam que exercícios podem ter efeitos similares ou superiores aos dos remédios para controle da pressão arterial e queima de gordura abdominal. Mas também ressaltam que a ciência do exercício clínico poderia empenhar-se e desenvolver mais rigor nos métodos que testam o exercício como medicação.
 
Estudos mais longos que comparem diretamente diversos remédios e vários tipos de treinos são necessários, argumentou Neeland, embora sejam caros e de difícil realização do ponto de vista logístico.
 
(Fonte: New York Times. - VivaBem/Uol)

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